Embora continue sendo lamentável e perigosa, a sanha golpista do presidente da República, Jair Bolsonaro, não é novidade para ninguém. O que é extremamente preocupante é a crescente sinalização de que uma parcela das Forças Armadas tem interesse em participar dessa ofensiva contra a democracia brasileira.
Esse ataque militar, aliás, tira proveito de um gesto de boa-fé. No ano passado, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, convidou as Forças Armadas a participarem de uma comissão que tinha o objetivo de ampliar a transparência das eleições.
O objetivo de Barroso era que os militares respaldassem a defesa das urnas eletrônicas, desarmando a estratégia de Bolsonaro que visa creditar eventual derrota nas eleições de outubro a uma suposta fraude na votação. O tiro do TSE, no entanto, saiu pela culatra.
Nos últimos meses de trabalho da comissão de transparência eleitoral, as Forças Armadas têm buscado tumultuar o processo, com quase uma centena de questionamentos sobre o funcionamento das urnas. No fim de abril desse ano, já ciente do efeito prático da medida adotada em 2021, Barroso chegou a afirmar que a instituição tem sido "orientada" a atacar o processo eleitoral para "desacreditá-lo". Isso serviu como deixa para o Ministério da Defesa partir para o ataque, repudiando a fala do ministro.
Além disso, no início desse mês, a Defesa solicitou ao atual presidente do TSE, Edson Fachin, que as perguntas feitas pelas Forças Armadas sobre o sistema de votação sejam tornadas públicas. O que deve ser atendido pelo tribunal. Para piorar, Bolsonaro tem aproveitado essa tensão para sugerir ideias malucas, como uma apuração paralela de votos por parte dos militares ou que a apuração oficial do TSE seja submetida ao controle externo de uma empresa privada contratada por seu partido, o PL.
Vale lembrar que, mesmo após ter vencido a disputa de 2018, Bolsonaro passou a tentar desacreditar o processo eleitoral brasileiro, afirmando ter havido fraude, mas sem apresentar uma prova sequer disso. A entrada dos militares nesse jogo é alarmante. O papel das Forças Armadas é defender o país. E não ajudar a atacar nossa democracia.
28/05/2022 - 00:15
21/05/2022 - 00:35
13/05/2022 - 23:53
Nós utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nossas plataformas. Ao utilizar nosso site, você aceita os termos de uso e política de privacidade.